z a h i r.
— Gostei do seu cabelo.
— Não queria te contar, mas fiz isso por sua causa.
— Por minha causa? — Ele ergueu as sobrancelhas.
— É aquela coisa de mude por fora e traga a mudança pra dentro, sabe?
— Entendi.
Ela suspirou.
— Você nunca ajuda com os comentários inúteis.
— E o que é que você quer que eu diga? — Ele remexeu-se na poltrona. Ela deu de ombros, largando a bolsa no chão e recostando-se mais em seu próprio assento. — Não quero que você me odeie mais.
— Eu não odeio você.
Silêncio.
— Por que sempre eu que acabo tentando fazer as pazes? Quer dizer, olha onde eu vim parar. — Ela cruzou as mãos atrás da cabeça e olhou para o teto branco.
— Isso não é verdade e você sabe. — Ele também começou a encarar o teto.
— O que eu sei é que tudo isso é muito, muito confuso e eu me sinto cansada.
— Também me sinto às vezes.
Suspiraram ao mesmo tempo e se encararam com surpresa pelo acontecido. Ela não resistiu e soltou um risinho. Ele sorriu de canto.
— Você tem whisky?
— Puro?
— Por favor.
Ele se levantou para pegar a bebida no outro cômodo. Ela observou o percurso dos pés dele no chão e o balanço das mãos no ar.
Não demorou para que ele voltasse com dois copos e oferecesse um a ela. A troca foi rápida. Ele se apoiou na parede onde a poltrona dela estava encostada.
Beberam em silêncio. Quando acabou, não tiveram vontade de repetir.
— Ainda tenho muita coisa pra estudar. — Ela levantou e deixou o copo largado onde estava sentada. Ele que pegasse depois. — Desculpa pela visita repentina.
— Você pode vir quando quiser.
— Não sei se é bem assim que funciona. Foi um impulso.
Ela pendurou a bolsa no ombro. Pesava com os livros.
Ele não disse nada e ela viu que era a deixa para ir embora. Pelo visto já tinha falado demais. Feito demais. Tentado demais. Talvez ele não quisesse que ela tentasse, afinal de contas.
Ela virou as costas e ele segurou sua mão. Ela não sabia se soltava. Na dúvida, apenas ficou parada. Sorte que ele não conseguia ver sua guerra interna.
Ela não ter desvencilhado, no entanto, disse muito para ele, que se aproximou e tirou o cabelo dela da nuca.
— Você não disse que queria deixar parte do seu cabelo colorido.
— Você não perguntou. — A fala era quase inaudível.
Ele sorriu com o desconforto dela e beijou sua nuca delicadamente ao mesmo tempo em que passeava os dedos pela sua cintura. Viu que ela se arrepiou. Pegou a bolsa do ombro dela e jogou no chão. Depois, puxou a jaqueta preta dela, tirando com a maior calma que conseguiu.
— Você sabe que não precisa ir embora. Nunca, se quiser.
— Como vou saber se não devo ir?
Ele a virou de frente, para que se olhassem.
— Não vai saber.
E quando ele acariciou a bochecha dela e a beijou, ela ainda não sabia.
Mas também não foi embora.
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Zahir: Em árabe, algo ou alguém que uma vez tocado ou visto jamais é esquecido. Situação que ocupa o pensamento e pode levar à loucura.
E possível eu escrever como vc
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