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Cinese

Hoje faz dezessete dias que não falo com você. Não contei as horas nem os minutos, acho que não sou tão obcecada assim. Mas sei os dias. Dezessete. Eu já disse isso? Dezessete. Poxa. Dezessete. Com todas as sílabas.
Sabe que eu tive uma manhã ruim? Normalmente, eu iria correndo contar pra você. Iria reclamar em trinta mensagens seguidas e depois ver as coisas melhorarem só por você me responder e falar de você e falar do seu dia e respirar e gostar de mim e ser você.
Você continua sendo você e eu continuo sendo eu. Andei os vinte minutos habituais até o ponto de ônibus. Ainda uso vestidos floridos. Não cortei as pontas do cabelo. Tenho prova de economia amanhã. Depois de amanhã, aula de música. Toquei na igreja no domingo, mesmo odiando a igreja. Ri de coisas fúteis. Escutei muita música boa, inclusive as que me lembram você. Troquei leituras e experiências. Um pouco de estresse cotidiano. Chorei. De novo e de novo e de novo e de novo e a vida continuou desse jeito.
Vem cá, você sempre afirmou que meu ódio por você é passageiro. Concordo. É. Passou. Não te odeio. O que não passa dessa vez é a minha vontade de ficar longe. Mesmo que esteja doendo agora por manter distância, dói mais ainda ter que ficar perto. Queima. Você queima. Você queima e eu sou papel.
Dezessete. Cada ínfima hora provou a mim mesma que a abstinência não é pra sempre. Eu fiz uns papéis com números escritos. Esquema de contagem dos dias. Trinta e um. É. É só pra provar que consigo me afastar. Rasgo cada um deles conforme os dias passam. Um por dia, ou vários por dia quando fico ocupada com a minha existência e esqueço da tarefa. No último papel, escrevi "faça isso pelo resto da vida".
Pois é, tenho certeza que vou chegar no último papel.
Então, continuo fazendo ioga e assistindo vídeos de dança contemporânea. Os livros espíritas e os do Nicholas Sparks sempre estão na minha bolsa e nas minhas mãos, esses últimos normalmente com sorvete. As comédias românticas continuam na minha lista da Netflix e vou assistir assim que achar que mereço um descanso da realidade.
Na última história que escrevi sobre você, afirmei: "Não somos as mesmas pessoas". Mas, bom, mesmo não sendo as mesmas pessoas, fiz um final feliz em que você magicamente mudava e mostrava que, bem, não sermos as mesmas pessoas era uma coisa boa, porque assim podíamos ficar juntos com mais propriedade. Digno de contos de fada, não é mesmo?
Ah, não. Não. Concordo que é bom, mas não pra ficarmos juntos. Não mais. Essa minha crise não é passageira. Nem o meu amor próprio. Nem o meu despertar pra toxicidade disso tudo. Nem... Nem a minha relação comigo mesma. Não vai passar. Não preciso que passe. Não quero que passe. Porque, sabe, respirar longe de você é algo que faço com liberdade consolidada. Sim, é assim que me sinto.
Livre.
Acho que esse é o meu final da Disney, então. O que eu decidi, pra variar. Amo ouvir Ana Carolina, MPB é tão lindo, e ela diz: "Momentos que são meus e que não abro mão". Não somos as mesmas pessoas.
E eu não vou voltar pra você dessa vez.

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