a t e l o f o b i a.
Parado em frente à porta da casa, ele suspirou, com as chaves na mão. Tentou espiar através do vidro, mas as luzes estavam apagadas. Provavelmente ela estaria dormindo. Na verdade, com certeza ela estaria dormindo, já que eram 04h da manhã e ela tinha um paciente agendado para 08h. Ele não podia adiar para sempre, então destrancou a porta e entrou, tentando ser silencioso.
Ele não costumava sair durante as brigas, mas achou que daquela vez havia sido necessário. Aliás, provavelmente teria mudado de ideia se ela não tivesse gritado para ele ir embora. A única cena que persistiu em sua mente enquanto saía foi a dela encolhida no sofá, com as lágrimas marcando o rosto e os lábios franzidos de ódio. É claro que ele não queria machucá-la, e nem ela o faria de propósito, mas às vezes era inevitável.
Ele largou a chave e começou a desabotoar a camisa, decidindo dormir no sofá para não incomodá-la, quando percebeu que ela já estava lá, respirando com suavidade, ainda com o vestido longo e florido. Nem parecia que algumas horas atrás havia explodido. Ele suspirou pela segunda vez e acendeu apenas uma luz para poder enxergar com mais clareza. Livrou-se da camisa, deixando numa poltrona próxima, e pegou-a no colo, a fim de levá-la para a cama. Mais ou menos no meio do caminho ela acordou.
— Achei que tinha ido embora. — A voz dela estava rouca, ainda afetada pelo sono.
— Não fui — ele respondeu, empurrando a porta do quarto com o ombro. Acomodou-a na cama e cobriu-a. Ela não se preocupou em esconder a vulnerabilidade.
— Então fica — pediu. Apertou a mão dele. Ele apertou de volta.
Acabou deitando junto com ela para envolvê-la no seu abraço. Ela acariciou o rosto dele e enroscou a perna no seu quadril despido, fechando os olhos.
— Eu fico — ele disse, baixinho.
Ela sorriu de canto, de forma leve. Ele entendeu que era o suficiente e também fechou os olhos.
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Atelofobia: Medo da imperfeição. Medo de não ser suficientemente bom.
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